Segundo a avaliação do Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João (CBHLSJ), a mudança no período de defeso do camarão na Lagoa de Araruama, conquistada nesse mês de agosto, após nove anos de luta, vai gerar impactos positivos para a pesca na Lagoa. O período de defeso dos crustáceos, quando é proibida a sua pesca, passará a ser de 1º de abril a 30 de junho, conforme a Portaria n º 1.217, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no último dia 22.
Atualmente, o período de defeso dessas espécies era o mesmo que o definido para os peixes, ou seja, de 1° de agosto a 31 de outubro. Com a mudança, que passa a valer a partir do próximo ano, a proibição para pesca dos camarões e dos peixes ocorrerão em períodos diferentes. Essa alteração é resultado de esforços conjuntos entre o CBHLSJ, o Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ), a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ) e o setor pesqueiro artesanal, a Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), além de pesquisadores. A revisão baseou-se em dados científicos sobre a biologia dos camarões e o etnoconhecimento tradicional das comunidades pesqueiras.
“Com a mudança do defeso, os camarões pequenos podem se distribuir por toda a Laguna e, com isso, poderemos retornar com outros tipos de pesca, como o gancho de camarão, lá no fundo da Lagoa, que ficou totalmente extinto, pois capturava o camarão miúdo, quando ele ainda estava entrando, não dando chance dele estocar toda a Laguna. Então a gente sai de uma pontuação negativa, para uma total positiva. Além disso, com a separação do defeso, haverá um ordenamento melhor da pescaria, gerando muito mais renda para os municípios” afirmou o Coordenador da Câmara Técnica de Pesca e Aquicultura do CBHLSJ, Chico Pescador.
De acordo com a secretária executiva do CILSJ, Adriana Saad, a proposta para o período de defeso do camarão sempre foi para os meses de abril, maio e junho. Pois é exatamente nesses meses que acontece a reprodução do camarão no mar, ou seja, o camarão se reproduz no mar e entra na lagoa para crescer e para se proteger. Assim, essa modificação foi extremamente importante, uma vez que o camarão agora pode entrar na Lagoa e crescer para, então, ser capturado.
“É muito importante frisar que o defeso da Lagoa de Araruama é um defeso que não está voltado para a questão da proteção da época de reprodução. Ele está focado para o defeso do crescimento das espécies, do seu recrutamento. Então, a questão do peixe está perfeitamente sendo conduzida. Nós estamos monitorando, através dos programas de estatística pesqueira, inclusive com muita agregação do próprio pescador. Agora, em relação ao camarão, foi um equívoco o que aconteceu e que acabou gerando um prejuízo” afirmou Adriana Saad.
“Essa mudança vai trazer resultados muito significativos, porque no período que estava proibida a pesca do camarão, ele estava grande. Porém, no período que estava liberado para o crustáceo ser capturado, ele estava no tamanho muito pequeno, de modo que isso levava a um impacto sócio-econômico e ambiental muito significativo” complementou o presidente do CBHLSJ, Eduardo Pimenta.